quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

De uma expressão a uma ideologia



"Políticos são todos corruptos”. Essa é a frase que rege a opinião pública sobre política, gerando um desinteresse das atividades políticas e, como conseqüência, a pouca mobilização dos cidadãos.

Essa ideologia de que a política é sempre corrupta é propagada de forma muito sutil e permanente pela mídia e pelos próprios indivíduos. E segundo ela, a atividade política torna-se inútil para a sociedade, e a ação coletiva também, visto que a instituição “corrupta” não dará ouvidos às manifestações sociais.

Sua propagação pela mídia é evidente. Porém, o motivo pelo qual os meios de comunicação tendem a fazer uma cobertura que influencia o público a repugnar a política são diversos. Um deles é a hiperpolitização da própria política - ou seja, resumir qualquer ação política em interesse eleitoral. Assim, as boas medidas adotadas são consideradas táticas, e não características de um bom governo. Um outro motivo pode ser entendido com a frase de Thomas Patterson: “Boa política não gera boas notícias”, ou seja, em busca da audiência, que só é alcançada com matérias espetaculares, a mídia pode alimentar um círculo vicioso.

Esse círculo é gerado pelo comportamento dos políticos, pela cobertura da imprensa sobre a política, e pela opinião pública: os políticos, baseados na idéia difundida pela mídia, encaram inútil adotar uma postura “correta”; os jornalistas sabem que seus leitores esperam notícias bombásticas de más políticas; e o público vê na desonestidade da política uma isenção de seus mais diversos deveres.
Entre esses deveres, está o de cidadão, que consiste em participar da vida política. Ao adotar a abstrata opinião de que “políticos são todos corruptos” e “nada adianta se envolver com isso”, o individuo torna-se também corrupto. Visto que não se informa sobre as ações do governo atual, não se interessa em fazer parte de movimentos (governamentais ou não), e acaba se desinteressando por todo assunto construtivo para a sociedade. Assim corrompendo seu dever de cidadão.
A partir de um expressão que generaliza uma classe, portanto, propagamos uma ideologia que nos afunda para a inércia. A crença desmedida nos políticos não é consciência política, porém, crer sem questionamento em uma frase não significa conhecimento. É necessário um meio termo para que não continuemos apenas assistindo as atividades políticas e criticando com frases prontas. Afinal, é necessário discernimento ao julgar, e não generalização.

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