domingo, 15 de novembro de 2009

Veja que beleza..



Hoje estava mexendo no antigo pc e resolvi dar uma olhada nas coisas do ensino médio. Encontrei um trabalho de sociologia sobre a influencia dos meios de comunicação e as relações de poder. Junto, estava a música Burrice do Tom Zé. A partir daí entrei em uma viagem.
Lembrar do passado é engraçado, mesmo que não fossemos feliz, lembramos com uma certa nostalgia, como se só pelo fato de ter passado, tivesse uma certa elegância. Mas acho que realmente existiu uma certa elegancia nessas memórias. Foi quando encontrei duas pessoas que ainda hoje são umas das mais interessantes que já conheci. Pessoas críticas e sensíveis. A sensiblidade é algo muito difícil de se achar em alguém.
Ver e entender se torna fácil quando tenta-se sentir tudo. E quando eu pensava isso eu senti muito. Escutando a música e refletindo sobre ela, também lembrava sobre a apresentação do trabalho. Quando diversos colegas defendiam a globo e criticavam as minhas posições. Pessoas que se sentiam superiores que outros. Isso me faz repudiar essas memórias. Pessoas que não sentem, pessoas que apenas reproduzem. "Refinada, poliglota, anda na esquerda, anda na direita, mas a consagração foi o advento da televisão"
Me deu saudade. É triste se separar das pessoas e viver tantas vidas. Mas ao mesmo tempo isso me deixa feliz por sentir que valeu a pena. É estranho, o ser humano se adapta a quase tudo e pode viver muitas vidas. Mas a gente só vive uma. Eu gostaria de viver tantas vidas. E a mudança é uma forma de se sentir viva. Porque a monotonia? Porque a segurança? Eu quero viver tudo que há pra viver...
seja ou não um advento da modernidade, a vontade de é o que nos torna tão complicados. Talvez querer" pareça um capricho humano quando tantas mudanças práticas precisam acontecer, mas como disse o Tom Zé, o ser humano tem esse defeito de fabricação, ele pensa, cria, sonha. E não, pra mim isso não é capricho. SONHAR nunca vai ser capricho. Não quero passar a vida assistindo televisão, quero sempre buscar, e nunca me acomodar em baixo dos pelos do coelho que o mágico tira da cartola dizendo "me passe a manteiga".. "a burrice está na mesa"
ei ei ei ei ei veja que beleza...

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Uma fatia de poder em troca de uma fatia de liberdade


No momento existem mil idéias surgindo e bombardeando a minha mente. Eu nem sei se sou capaz de organiza-las logicamente. Mas vou tentar.

Primeiro, gostaria de dizer o assunto principal entre essas várias idéias: liberdade.

O texto não é o mesmo de quando eu digo que me sinto presa. Mas como o assunto é o mesmo, provavelmente uma coisa tenha relação com a outra.

O caso do jogador brasileiro que deixou o emprego de dólares e voltou a morar na favela onde cresceu me deixou muito pensativa. Filosofei vagamente sobre como fazemos escolhas na vida que dificilmente pode-se voltar atrás. É claro, que como o Adriano fez, podemos desistir, mas provavelmente não será a mesma coisa. Pois nós também nos transformamos.

Lendo um texto sobre os guaranis, fiquei intrigada com uma coisa: eles trabalhavam quando queriam, não existia a obrigação do trabalho, era uma forma de trabalho bem mais livre. Para isso, a comunidade tinha que controlar sua natalidade, e o modo como isso se dava era por meio do aborto e do infanticídio.

Agora, lendo sobre os direitos humanos, me deparei com frases que também remetem a idéia central. “Liberdades e poderes, com freqüência, não são – como se crê – complementares, mas incompatíveis.” Em suma, os direitos são adquiridos por meio da supressão de certas liberdades. Isso seria o direito, o que restringe as liberdades individuais (embora o direito de caráter individualista) em favor da sociedade.

Além dessa frase, o livro cita como exemplo dessa oposição entre o liberal e o socialismo. Aí, também lembro-me do livro Quincas Borba (do séc XIX) e do mito do humanitas, onde Machado de Assis cita a teoria liberal vigente na época: “porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra.” Também no livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, o filósofo afirma que os esforços realizados pelo escravo são necessários, pois se não fosse o esforço do escravo para preparar o alimento, o humanitas não teria alimentos, que é uma questão de sobrevivência. Assim, temos que, para que um direito seja estabelecido, há uma restrição de liberdade de um outro grupo ou individuo.

Nesse exemplo da escravidão, parece atualmente obvio que o direito de liberdade do escravo é bem mais significativo que o do que escraviza. Isto porque, o motivo apresentado no livro de Machado de Assis, é um mito, se apresenta de forma vaga com a finalidade de criar uma verdade absoluta. Apenas olhando de maneira objetiva, sabemos que essa “necessidade de sobrevivência” é buscada no evolucionismo e não faz o menor sentido no contexto real. Mas, de fato essa idéia de que o direito de uns exclui a liberdade de outros, apresenta-se pra mim atualmente como verdade.

A liberdade de imprensa, por exemplo, pode tirar o direito dos indivíduos de terem noticias verdadeiras, apresentadas de maneira ética. Enfim, acredito que deve haver um dialogo sempre, para que se busque o mais sensato. Porém, certamente existem escolhas que nos beneficiam em muitos sentidos, mas nos privam da liberdade.

O nosso Adriano parece que está passando por essa crise, onde o poder que ele obteve foi incapaz de substituir a sua primitiva liberdade, como os guaranis tinham de trabalhar quando quisessem.

Desculpem se houver algum erro no texto ou se algo ficou sem lógica, mas eu preciso terminar esse livro hoje, por isso não pude corrigir.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Dalia Sofer


Dalia Sofer, uma escritora iraniana, fugiu para os EUA após a Revolução Islâmica dos aiatolás, que derrubou o xá Reza Pahlevi. Seu livro, Setembros de Shiraz é quase uma autobiografia, onde um pai de família judeu – Isaac Amin - é preso pelo regime, acusado de ser um espião israelense. O filho mais velho de Amin – Parviz - está nos EUA, dividido entre o mundo ocidental e oriental e enriquece filosoficamente a narrativa, visto que a solidão o faz refletir sobre diversos assuntos (como por exemplo no trecho do livro abaixo)

"Ele vai andando para a ponte do Brooklyn, atravessa e continua andando pela cidade, vendo os arranha-céus projetando suas sombras compridas nas calçadas e privando os pedestres dos últimos minutos da luz do sol. Nova York é uma cidade masculina, ele pensa, vertical e com arestas ásperas, sem as curvas da entrada de uma estação de metrô em Paris, por exemplo, ou o domo esmaltado de uma mesquita de Ifsahan. Nova York é toda aço e vidro, econômica e funcional. É uma cidade onde os círculos são raros. Ele traça na cabeça halos, anéis, rodas da fortuna, relógios, todos instrumentos de encarceramento, por um lado, e de esperança, por outro. Caminhando pelas ruas numeradas e as avenidas paralelas de Manhattan, Parviz diz para ele mesmo que o que falta nessa cidade é redondeza. E as pessoas que moram ali, empilhadas, não só lado a lado, mas também umas em cima das outras, sempre sem espaço, sem tempo e sem ar, pagando caríssimo por frestas de vento e morando no céu com seus cães e gatos, estão sempre seguindo pra cima, sem jamais retornar a elas mesmas.

Ele continua andando quando a noite cai, pára num restaurante para tomar café e comer ovos mexidos, observa os outros fregueses que vão ficando escassos à medida que as horas passam... famílias que viram casais e que encolhem para os solitários, aqueles que entram desarrumados, com seus jornais e livros, pedindo cheeseburguer com fritas e fingindo que é exatamente assim que desejam passar mais uma noite.

Por volta das três da madrugada, voltando para a ponte, Parviz passa pelo mercado de peixe Fulton, vê os caminhões de entrega, os caixotes empilhados e os peixeiros com os rostos cobertos de fuligem, aquecendo as mãos em pequenas fogueiras que ardem dentro de latas de lixo, negociando com os clientes. Nas ruas de paralelepípedos, manchadas de sangue e escorregadias, o cheiro dos portos, cheiro bem conhecido, faz Parviz se lembrar da cidade portuária de Ramsar à beira do Cáspio, não muito longe da casa de praia da família dele. Ele gosta do fato de estar acordado àquela hora e de poder sentir o cheiro do mar, e pensa que para entender o mundo e até para encontrar nele um alívio ocasional, as pessoas devem sempre alternar suas horas de sono, seu caminho para o trabalho, os lugares que freqüentam, os pratos que comem e até, talvez, as pessoas que amam."

Setembros de Shiraz – Dália Sofer (pág. 194)

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

De uma expressão a uma ideologia



"Políticos são todos corruptos”. Essa é a frase que rege a opinião pública sobre política, gerando um desinteresse das atividades políticas e, como conseqüência, a pouca mobilização dos cidadãos.

Essa ideologia de que a política é sempre corrupta é propagada de forma muito sutil e permanente pela mídia e pelos próprios indivíduos. E segundo ela, a atividade política torna-se inútil para a sociedade, e a ação coletiva também, visto que a instituição “corrupta” não dará ouvidos às manifestações sociais.

Sua propagação pela mídia é evidente. Porém, o motivo pelo qual os meios de comunicação tendem a fazer uma cobertura que influencia o público a repugnar a política são diversos. Um deles é a hiperpolitização da própria política - ou seja, resumir qualquer ação política em interesse eleitoral. Assim, as boas medidas adotadas são consideradas táticas, e não características de um bom governo. Um outro motivo pode ser entendido com a frase de Thomas Patterson: “Boa política não gera boas notícias”, ou seja, em busca da audiência, que só é alcançada com matérias espetaculares, a mídia pode alimentar um círculo vicioso.

Esse círculo é gerado pelo comportamento dos políticos, pela cobertura da imprensa sobre a política, e pela opinião pública: os políticos, baseados na idéia difundida pela mídia, encaram inútil adotar uma postura “correta”; os jornalistas sabem que seus leitores esperam notícias bombásticas de más políticas; e o público vê na desonestidade da política uma isenção de seus mais diversos deveres.
Entre esses deveres, está o de cidadão, que consiste em participar da vida política. Ao adotar a abstrata opinião de que “políticos são todos corruptos” e “nada adianta se envolver com isso”, o individuo torna-se também corrupto. Visto que não se informa sobre as ações do governo atual, não se interessa em fazer parte de movimentos (governamentais ou não), e acaba se desinteressando por todo assunto construtivo para a sociedade. Assim corrompendo seu dever de cidadão.
A partir de um expressão que generaliza uma classe, portanto, propagamos uma ideologia que nos afunda para a inércia. A crença desmedida nos políticos não é consciência política, porém, crer sem questionamento em uma frase não significa conhecimento. É necessário um meio termo para que não continuemos apenas assistindo as atividades políticas e criticando com frases prontas. Afinal, é necessário discernimento ao julgar, e não generalização.

domingo, 25 de maio de 2008

Refúgio



Um vento quente entrou na sala quando as janelas brancas e pesadas foram abertas. Alberto já havia percebido como era bonita a arquitetura do prédio enquanto um homem gordo e seboso discursava lá na frente. Os pais diziam que depois da adolescência ia mudar aquela personalidade aérea de Alberto, mas se enganaram. Com seus 25 anos, na reta final da faculdade, ele continuava o mesmo garoto de olhos grandes, fundos e aéreos.

Enquanto o homem falava empolgado, gritava, fazia perguntas que ele mesmo respondia (‘retórica se chamava isso não?!’ pensou Alberto extremamente alienado a situação, que deixava seus colegas de faculdade nervosos, loucos pra contrariar a opinião do gordo se utilizando de mil e um argumentos), Alberto olhava o teto e as janelas da sala. Era uma sala com uma altura fora do comum, mas estreita e pequena, o que fazia Alberto se sentir preso, sem ar. Talvez em parte essa falta de ar fosse porque as janelas estavam todas fechadas e os vidros começavam a se embaçar. Mas Alberto foi mais longe nos seus pensamentos, para ele a falta de ar era a reação dele a todos os anos com aquele grupo de pessoas que ali se encontrava. Era verdade que gostava de muitos, individualmente, porém, há alguns meses andava distanciado do grupo em si, percebia nas atitudes de uns com os outros o que mais lhe deixava sem paciência, sem vontade de estar ali, sem ar. Era um acúmulo de responsabilidades com sua família, seus estudos, com a profissão que escolhera seguir, com os amigos, consigo mesmo. Tudo isso agora se depositava nos seus ombros e ele sentia os músculos contraídos, uma resposta física a esse peso psicológico, esse peso do ar que estava mais denso que nunca naquele lugar.

O gordo suava por todas as dobras do corpo, sua camisa já tinha mais que duas rodelas em baixo dos braços, começava a marcar listras na barriga, então ele resolveu levantar o vidro das janelas.

Ao sentir aquele ar diferente, refrescante e ao mesmo tempo quente, Alberto despertou de seus devaneios subjetivos e resolveu por em prática a solução do problema que lhe afligia momentaneamente, que era o ambiente daquela bela sala decorada por anjos no teto, que remetia à casa de uma família rica e católica de uns dois séculos atrás.

Tentou ser discreto ao abandonar a palestra, porém, não conseguiu, teve de pedir licença para várias pessoas que se encontravam sentadas no corredor, devido a falta de espaço. Alberto passou no banheiro, teve de fazer um pouco de força para empurrar a pesada porta de madeira, lavou o rosto, mal o secou e saiu pelo corredor do prédio. Ao descer as escadas, ficou impressionado com o teto que era mais bonito ali do que na sala que ele estava, segurou-se no corrimão e foi toda descida olhando para cima.

Quando assinou seu nome no caderno de visita, ficou em dúvida que cidade colocar. Ele vivia em um mundo tão vasto, como poderia limitar todos seus pensamentos a um espaço geográfico tão pequeno como era aquela cidadezinha? Mas resolveu não se prender a detalhes tão insignificantes como aquele caderno, pôs o nome da cidade e saiu em direção a um bar que ficava a umas quadras dali.

Enquanto caminhava lentamente, observando tudo e todos, Alberto viu um buraco que dava para um lugar subterrâneo. Não era algo incomum naquela cidade, aliás, o quarto que Alberto estava alugando era quase subterrâneo, pois a parte inferior da janela que arejava seu quarto encostava no chão da rua. Mas esta entrada na rua lhe chamou a atenção, pois com certeza teria de descer mais que três degraus, que era o que descia para chegar ao chão de seu quarto.

Alberto se lembrou de um seriado que vinha assistindo, onde existia uma prisão com uma arquitetura diferente e pensando na possibilidade de encontrar ali um mistério, resolveu entrar.

Ao se aproximar do buraco pode ver uma escada toda na vertical, enorme e nada segura, achou o máximo e todo sem jeito foi se enfiando no lugar. Depois de descer a escada até um pequeno espaço retangular, onde não tinha nada, Alberto viu uma outra escada que dava para uma sala maior, com várias coisas. Sem pensar, foi descendo, e em seguida estava nesse lugar escuro e úmido. Não entendeu o porque daquela atitude, mas como já havia a feito, decidiu explorar o lugar.

sábado, 3 de maio de 2008

O impacto da velocidade


A rapidez com que tudo se desenvolve no século atual gera um estilo de vida e produção extremamente corridos. Esta corrida não é necessariamente simbólica, pode ser vista no trânsito, onde as pessoas –influenciadas também por outros diversos fatores- dirigem seus veículos em alta velocidade e acabam agravando ou ocasionando acidentes. Estes acidentes constituem o segundo pior problema de saúde pública no Brasil e necessitam de uma solução.

Os acidentes no trânsito são gerados por falta de segurança ou condições da estrada, do veículo e principalmente pela imprudência dos motoristas. Esta imprudência pode ser vista em várias ações, mas as principais campanhas de conscientização de segurança no trânsito focam dirigir alcoolizado e/ou em alta velocidade. Imagina-se que como resultado destas campanhas de conscientização, grande parte dos jovens não sejam incluídos nesta maioria imprudente, porém, enganam-se, os jovens continuam envolvidos em um alto número de acidentes no trânsito e parece que irão continuar caso não seja tomada uma nova providência.

Algumas providências em relação aos automóveis já foram tomadas em outros países e diminuíram a morte nos acidentes de trânsito, porém, no Brasil conhecemos outra realidade, onde a publicidade não foca a segurança, mas ao contrário, é o fator que nos leva a entender o que influencia as pessoas e os jovens a dirigir em alta velocidade e alcoolizados.

Um automóvel tem capacidade para andar em uma velocidade duas ou três vezes maior que a permitida por lei, o que torna de escolha do motorista estar dentro dos limites ou não. Campanhas de conscientização de segurança tentam mostrar e convencer que é indispensável para vida estar dentro deste limite, porém esta publicidade além de atingir a poucos é de menor qualidade da contrária feita pelas empresas de veículos. Explico: quando vemos este tipo de publicidade sabemos do que se trata, porém as propagandas de carros considerados por nós bons, induzem a velocidade e à agressividade sem ao menos deixar que percebamos que estamos sendo induzidos. Andar em alta velocidade é visto como sinal de coragem, grandeza. É explicito esta influencia da mídia em uma propaganda de uma determinada marca que dizia “A vida começa aos 18 quando você começa a dirigir, mas pode ficar mais emocionante aos 120”, onde “120” faz uma alusão à velocidade, o dobro da permitida em determinados locais.

É fácil mostrar aos jovens o que é correto, difícil, porém é influenciá-los a querer estar dentro das normas. Esta idéia de coragem por desobedecer às regras é cultuada a todo o momento na mídia, e combinado às exigências de velocidade da atual sociedade produzem uma nova geração que pode ser, ao contrário do que as pessoas esperam, o problema, e não a solução para a violência no trânsito.

Além de medidas mais focadas à segurança de estradas e veículos é preciso uma maneira diferente de conscientizar os motoristas e uma punição mais drásticas aos que cometem erros nos trânsito. A punição sozinha não é capaz de resolver o problema, porém, nem a ação educativa. As duas devem se complementar e condicionar uma atitude mais consciente no trânsito, onde o jovem tem consciência do que pode causar, porém, tem consciência também de que será punido caso prejudique a vida dos outros.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Uma experiência genética




O rápido desenvolvimento da tecnologia combinado à velha vontade humana de longa vida está permitindo grandes evoluções na área de pesquisas científicas. Os cientistas prosseguem suas pesquisas e evoluem a cada dia, encaminhando a sociedade para um novo rumo, o que vem causando polêmicas e discussões sobre quão ético são estas pesquisas na prática.

A genética estuda a hereditariedade, a transferência das características físicas de gerações para gerações por meio de genes. Em 2000 foi completado o sequenciamento genético de todos os genes humanos, e concluiu-se o mapeamento genético, um avanço muito importante, pois conhecendo a função de cada seqüência do DNA é possível eliminar doenças de origem genética. Com a engenharia genética também é possível modificar esta seqüência a fim de manipular as características que o organismo vai assumir.

Porém, não se pode ter total controle sobre o gene inserido, e este pode afetar outros genes, tornando assim difícil limitar os efeitos ecológicos. Um exemplo está na agricultura, onde alimentos geneticamente modificados são resistentes a ervas e pestes, porém, por meio da polinização, por exemplo, os genes que deixam a plantação resistente podem ser transferidos para a erva e esta se torna resistente a defesa.

Uma crítica, geralmente religiosa, é contra a intervenção do homem na “criação divina”. A ignorância do princípio e do por que da vida faz os assuntos vida e morte assumirem esta natureza divina. A possibilidade de o próprio Homem criar um ser pensante e interferir até mesmo na morte pode desestruturar crenças em divindades intocáveis. A Igreja católica diz que utilizar um embrião é equivalente a matar, porém até o 14º dia o embrião não possui sistema nervoso, e continua a discussão se a vida se inicia desde a fecundação, ou apenas a partir do momento em que aquele embrião sente alguma dor.

Um outro ponto negativo encontra-se na utilização da ciência de modo errado, ou antiético. O mapeamento genético pode identificar que uma pessoa possui, ou vai possuir uma doença que pode ainda não ter a cura, ou pode até mesmo identificar a idade média de sua morte. Pergunta-se então: seria certo informar a pessoa, considerando que ela não tem como mudar isto? O mapeamento também pode identificar as capacidades físicas de alguém, impondo o que ela pode ou não fazer, a impedindo de superação, pois uma oportunidade não seria dada a alguém comprovadamente incapaz.

São previstas conseqüências como modelos sociais diferentes da atual, porém não menos problemáticos. Uma possível estrutura social futura é apresentada no filme Gattaca, onde o poder gira em torno da ciência.

No ápice da genética, os filhos são produzidos em um laboratório, juntando as melhores características de cada um dos pais. Estes pagam pelas características físicas e psicológicas consideradas boas e desativam, por exemplo, a predisposição ao uso de drogas ou à violência. Ao nascer, os pais recebem um relatório com as doenças que a pessoa terá e a idade média de sua morte, fardo que o homem carregará consigo ao longo de sua vida, sendo este bom ou ruim. Os filhos originados do sexo são chamados de filhos de fé e carregam o fardo da impossibilidade.

Os conceitos de “normal” e “anormal” são apenas substituídos pelas palavras “válidos” e “inválidos”. Onde os válidos são os seres geneticamente perfeitos, com capacidade elevada e assumem o topo e o controle da sociedade, e os inválidos são os filhos de fé, julgados incapazes não mais apenas por cor ou classe social, mas sim pela sua identidade genética. O filme mostra também a falta de controle do Estado sobre a génetica, o que parece já ter se iniciado na realidade.

Este controle deveria ser feito não apenas pelo Estado, mas também pela sociedade, afinal, as informações correspondentes ao Homo sapiens são propriedade pública, e mesmo que as informações específicas de um determinado indivíduo sejam particulares, a adoção da prática do mapeamento genético de alguém é de interesse geral, e não apenas de uma pequena camada.

O personagem central da história fictícia do referido filme é um filho de fé, um inválido. Ao dar a vida a Vincent, os pais receberam a idade de morte: 30 anos. Baseado na fraqueza do filho, o pai guardou o seu nome para dar ao irmão que mais tarde foi concebido por meio da genética, com condições físicas adequadas às novas exigências da sociedade. O que mostra a discriminação familiar induzida pelos padrões exteriores.

Induzido por estes padrões, Vincent quando adulto deseja ser “normal”, válido. Como único modo de se introduzir na nata da sociedade ele corrompe o sistema comprando material genético de um homem válido geneticamente, mas incapaz de carregar o fardo de ser perfeito. O inválido se esforça muito para se igualar aos outros e, burlando o sistema, consegue seu ideal: viajar para as estrelas.

O filme conclui a história mostrando que o cérebro está longe de ser mapeado, que o ser humano é capaz de superar os outros, e principalmente, se superar. Porém, o ato heróico do personagem pode não acontecer na realidade. A partir do momento em que tivermos a capacidade suposta no filme de produzir seres humanos perfeitos, ao menos fisicamente, poderemos não ter a capacidade de superar os filhos da ciência.

Por isso trata-se de um assunto sério e de interesse mundial, e não apenas de um laboratório, organização ou país. O rumo da humanidade depende da direção que deixamos ela seguir, e esta direção deve ser escolhida por todos, a fim de não prejudicar uns em benefícios de outros. Não esquecendo que o rumo da ciência não poderá inovar a atual estrutura social, então, existem muitas problemáticas a serem discutidas quando se trata de assuntos relativos e complexos como a ética e a genética.