domingo, 25 de maio de 2008

Refúgio



Um vento quente entrou na sala quando as janelas brancas e pesadas foram abertas. Alberto já havia percebido como era bonita a arquitetura do prédio enquanto um homem gordo e seboso discursava lá na frente. Os pais diziam que depois da adolescência ia mudar aquela personalidade aérea de Alberto, mas se enganaram. Com seus 25 anos, na reta final da faculdade, ele continuava o mesmo garoto de olhos grandes, fundos e aéreos.

Enquanto o homem falava empolgado, gritava, fazia perguntas que ele mesmo respondia (‘retórica se chamava isso não?!’ pensou Alberto extremamente alienado a situação, que deixava seus colegas de faculdade nervosos, loucos pra contrariar a opinião do gordo se utilizando de mil e um argumentos), Alberto olhava o teto e as janelas da sala. Era uma sala com uma altura fora do comum, mas estreita e pequena, o que fazia Alberto se sentir preso, sem ar. Talvez em parte essa falta de ar fosse porque as janelas estavam todas fechadas e os vidros começavam a se embaçar. Mas Alberto foi mais longe nos seus pensamentos, para ele a falta de ar era a reação dele a todos os anos com aquele grupo de pessoas que ali se encontrava. Era verdade que gostava de muitos, individualmente, porém, há alguns meses andava distanciado do grupo em si, percebia nas atitudes de uns com os outros o que mais lhe deixava sem paciência, sem vontade de estar ali, sem ar. Era um acúmulo de responsabilidades com sua família, seus estudos, com a profissão que escolhera seguir, com os amigos, consigo mesmo. Tudo isso agora se depositava nos seus ombros e ele sentia os músculos contraídos, uma resposta física a esse peso psicológico, esse peso do ar que estava mais denso que nunca naquele lugar.

O gordo suava por todas as dobras do corpo, sua camisa já tinha mais que duas rodelas em baixo dos braços, começava a marcar listras na barriga, então ele resolveu levantar o vidro das janelas.

Ao sentir aquele ar diferente, refrescante e ao mesmo tempo quente, Alberto despertou de seus devaneios subjetivos e resolveu por em prática a solução do problema que lhe afligia momentaneamente, que era o ambiente daquela bela sala decorada por anjos no teto, que remetia à casa de uma família rica e católica de uns dois séculos atrás.

Tentou ser discreto ao abandonar a palestra, porém, não conseguiu, teve de pedir licença para várias pessoas que se encontravam sentadas no corredor, devido a falta de espaço. Alberto passou no banheiro, teve de fazer um pouco de força para empurrar a pesada porta de madeira, lavou o rosto, mal o secou e saiu pelo corredor do prédio. Ao descer as escadas, ficou impressionado com o teto que era mais bonito ali do que na sala que ele estava, segurou-se no corrimão e foi toda descida olhando para cima.

Quando assinou seu nome no caderno de visita, ficou em dúvida que cidade colocar. Ele vivia em um mundo tão vasto, como poderia limitar todos seus pensamentos a um espaço geográfico tão pequeno como era aquela cidadezinha? Mas resolveu não se prender a detalhes tão insignificantes como aquele caderno, pôs o nome da cidade e saiu em direção a um bar que ficava a umas quadras dali.

Enquanto caminhava lentamente, observando tudo e todos, Alberto viu um buraco que dava para um lugar subterrâneo. Não era algo incomum naquela cidade, aliás, o quarto que Alberto estava alugando era quase subterrâneo, pois a parte inferior da janela que arejava seu quarto encostava no chão da rua. Mas esta entrada na rua lhe chamou a atenção, pois com certeza teria de descer mais que três degraus, que era o que descia para chegar ao chão de seu quarto.

Alberto se lembrou de um seriado que vinha assistindo, onde existia uma prisão com uma arquitetura diferente e pensando na possibilidade de encontrar ali um mistério, resolveu entrar.

Ao se aproximar do buraco pode ver uma escada toda na vertical, enorme e nada segura, achou o máximo e todo sem jeito foi se enfiando no lugar. Depois de descer a escada até um pequeno espaço retangular, onde não tinha nada, Alberto viu uma outra escada que dava para uma sala maior, com várias coisas. Sem pensar, foi descendo, e em seguida estava nesse lugar escuro e úmido. Não entendeu o porque daquela atitude, mas como já havia a feito, decidiu explorar o lugar.

5 comentários:

.-°Renata°-. disse...

uhm... alguém também mudou a casa!
rsrs

Ficou lindo!

Um beijão Ly

Evelise C. Genesini disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Evelise C. Genesini disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Evelise C. Genesini disse...

Retificando duas tentativas de comentário hehe...
Um pouco de inspiração no livro "1984" , não?
Gostei, ficou envolvente. Vontade de ler mais.

Beijos

.-°Renata°-. disse...

Oi Ly!

Atualizei... atualiza também.

Bjo