sábado, 19 de abril de 2008

Geração Beat



Geração Beat

A Segunda Guerra, e a possibilidade de ver cidades inteiras destruídas após o advento da bomba atômica e o sentimento crônico de descrença na moral e no progresso da civilização capitalista não incentivaram apenas a rebeldia adolescente, mas também um grupo de universitários os quais são chamados de beatniks, termo que pode ter sido dito anos mais tarde referindo-se a combinação da palavra beat, adotada pelo próprio grupo, junto ao sufixo nik, se referindo ao satélite Sputnik lançado pela URSS socialista na disputa espacial da Guerra Fria, com uma conotação de movimento, velocidade. A geração beat foi o primeiro movimento de contra-cultura a surgir nos Estados Unidos, com forte impacto histórico e cultural.

O termo BEAT pode ser associado a vários significados. Alguns acreditam que durante uma conversa Jack Kerouac e John Holmes procuravam uma definição para a falta de perspectiva que viam e sentiam ao redor. Inspirado pela Geração Perdida que procurava passar o sentimento de angústia, abandono e desespero entre as décadas 30 e 40, Kerouac associou a palavra beat, uma gíria antiga que significava estar cansado e vencido pela vida. Porém muitos críticos relacionam a palavra a uma batida constante equivalente ao ritmo do jazz, à batida da máquina de escrever ou batimentos cardíacos. Ainda há um outro sentido que pode ser comentado que é o de ‘beatitude’, ou seja, um bem estar espiritual.

Jack Kerouac, Willian Burroughts e Allen Ginsberg conheceram-se na Universidade de Columbia e estenderam sua convivência para dentro dos bares de jazz e apartamentos pobres do subúrbio de Nova Iorque. Eric Homberger diz que todo o resto (o zelo pela religião oriental, o flerte com o Existencialismo, a fascinação pelos sonhos, o radicalismo político, a paixão pelas drogas, a liberdade sexual) era decoração de uma complexa rede de relacionamentos. Era o prazer de estar entre amigos, uma espécie de prolongamento do sentimento colegial de fazer parte de uma turma.

Diz Hal Chase, também integrante da geração, que a chave de tudo foi o tédio. Acredita-se que um tédio pela universidade e seu modo de ensino - eles estavam interessados por escritos não ortodoxos como Rimbaud, Blake, Melville, Withman, Kafka, Nietzsche. Tédio por uma sociedade aparentemente perfeita e o status quo perfeito do consumismo capitalista. Esta aparência social só crescia visto que as repressão às tendências revolucionárias, após a crise econômica americana, levaram a um refluxo da classe operária, o que criou um quadro de relativa calmaria nas mobilizações políticas dentro do país. Cada vez crescia mais o modelo da classe média que girava em torno da aquisição de bens, e uma ideologia definida pelas suas ambições por melhorias materiais e conforto pessoal. Contra essa ideologia iam as utopias e as buscas dos intelectuais pensantes, contrários ao império da mediocridade que vigorava nessa América dos anos 50, que eram muitas vezes associados aos comunistas, devido a uma desconfiança generalizada dos que não estavam dispostos a aceitar o caminho americano.

Muitos beats eram oriundos de famílias que passaram pela depressão nos anos 30 viajando de trem à procura de emprego. Jack Kerouac, o beat mais conhecido pela publicação do livro On the road em 1957, foi influenciado por Jack London, decidiu se tornar um viajante aventureiro, característica dos beats, que se entregaram a uma vida marginalizada e romântica nas estradas americanas e da fronteira com o México. Além disto, os beats adotavam comportamentos que realmente quebravam os padrões, conheciam e admiravam as culturas negras, latinas e indígenas. As experiências relatadas nos livros envolviam experiências adquiridas ao longo destas viagens físicas e também psicológicas proporcionadas pelo álcool, bezendrina, maconha e diversas outras drogas e também por meditação. Simpatizavam e adotavam idéias a partir das crenças budistas, como por exemplo, a aceitação dos fatos cotidianos, no budismo visto como o kharma de um homem.

O modo de escrever foi inflenciado pelo bebop e os improvisos de Charlie Parker, que inspiravam uma literatura espontânea, de criação livre, fluída, cheia de frases em movimento e impaciente, tentando apreender numa mesma passagem os diversos universos que os interessavam. Além deste estilo frenético e dos temas a que se referia, como drogas e viagens, a geração beat também abordou assuntos como a sexualidade e o hedonismo. Muitas obras foram consideradas obscenas, como por exemplo o livro “Howl” de Allen Ginsberg que foi apreendido e rendeu um processo por pornografia para Lawrence Ferlinghetti que o publicou.

Allen Ginsberg foi um poeta, judeu, homossexual e anarquista. Nas palavras de Jack Kerouac era um angustiado poeta vagabundo da mente sombria. Após uma viagem pelo mundo descobriu o budismo e trocou as drogas por ioga e meditação. No seu livro já citado, Howl faz um protesto contra a automatização desumana da cultura americana e a afirnação da compaixão humana. Ginsberg foi a ligação beat com os hippies, quando nos anos 60 participou de eventos hippies, políticos (como o maio de 68) e pacifistas contra a Guerra do Vietnã.

William Burroughts desenvolveu métodos de colagem e dobragem na literatura derivados das colagens cubistas e procedimentos dadaístas e surrealistas. Aplicou esses métodos nas suas obras mais importantes, como “A máquina mole”, “O bilhete que explodiu”, “O expresso Nova” e “Almoço nu”. Este último é a compilaçao mais ou menos sequencial de viagens, horrores e paranóias que permeavam o imaginário sombrio, habitado por traficantes, lagartos, sodomitas e monstros de Borroughs nos anos de vício.

Embora tenha influenciado gerações por meio do seu livro “On the road”, Jack Kerouac não se considerava um beat - mas sim um louco estranho e solitário católico e místico - e assumiu um caráter extremamente conservador no final da vida. Já o livro foi reeditado muitas vezes para ser aceito pela editora e perdeu seu caráter e sua prosa espontânea, o que Jack comentou “eles queriam uma estrada destituída de todas as curvas”. Porém esta prosa espontânea e ainda sonoridades e aliterações podem ser lidas em obras como “Viajante solitário”, “Vagabundos Iluminados”, “Visions of Cody”, “Os Subterrâneos”, “Maggie Cassady”, “Tristessa” e “Big Sur”.

Em On the road o personagem admirado pelo alter ego de Kerouac é, na vida real, Neal Cassady, um delinqüente juvenil acostumado a roubar carros e viver em bares. Kerouac conheceu Cassady por meio de cartas que este enviava para um amigo em comum entre os dois, pedindo ajuda para escrever. O modo como Cassady escrevia influenciou também a prosa espontânea de Kerouac.

Além destes três escritores, participaram dessa geração literária inúmeros outros nomes, cujos mais importantes seriam Gary Snyder – antropólogo defensor da ecologia e da cultura indígena-, Gregory Corso - revoltado e insubmisso-, Clellon Holmes, Carl Solomon, Lawrence Ferlinghetti, Barbara Guest, Denise Levertov, Frank O’Hara, John Ashbery, Keneth Patchen, Peter Orlovsky, Haldon Hal Chase, Ken Kesey, Charles Bukowski – embora colocado à parte dos beats.


Texto elaborado para um trabalho de Sociologia (Ensino Médio CTI 2008)



3 comentários:

Unknown disse...

Não vim comentar desse texto,mas sim de tudo que eu senti quando li todos os textos.Posso asumir q até chorei um pouco,mas acho que não exatamente pelo que está escrito neles,e sim de perceber que lendo tudo isso eu vi que existe uma saudade,tristeza de ter me afastado de alguém tão especial!!

Podes lembrar de mim como uma amiguinha boba de colégio de anos atras!
No entanto eu sinto muita falta de ti,do teu sorriso que me animava nas piores hras,das futilidades que na época eram o centro do nosso universo e de outras milhares de coisas!!

Fico muito feliz,feliz mesmo de ver o rumo que tu tomo!!

Saudade imensuravel de ti!!!
beijos!Tudo de bom minha lilikitah!!

Suelen Faria.

.-°Renata°-. disse...

Genial.
Acredito no jazz. Visto que muitos jovens não sentiram a guerra com a mesma voracidade que outros, mas escutavam o mesmo jazz, na proporção de um POP atual.

Que bom que você voltou. De cara nova deu pra perceber!
Um beijão

.-°Renata°-. disse...

Oi Ly!
Sempre venho aqui sim, aguardando atualizações :).
Sou professora de história de um pré vestibular comunitário como voluntária. Estou terminando a faculdade de história né.
Mas trabalhar com eventos é uma cachaça... vicía!

Bjo Bjo...