segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Maria Antonieta



Sentada em meio aquela agitação ela parecia tão sozinha e desprotegida e ao mesmo tempo tão auto-suficiente. Ninguém poderia descrever se ela acreditava realmente que se bastava ou se ela apenas queria que acreditassem nesta blasfêmia. Mas ele era afoito, não se deu nem ao trabalho de lhe observar de longe, quis logo sentir-lhe de perto. Se imaginasse quanto tempo iria ter de observá-la a distancia aquela noite ele teria aproveitado a oportunidade de vê-la. Alguém lhe dirigiu a palavra, ela virou-se como fazia a todo o momento, como se quem lhe chamasse fosse alguém tão importante que ela fazia-lhe insignificante com uma máscara neutra que não modificava por nada. O que se passava em sua cabeça não se sabe, talvez ela ainda sorrisse por dentro, mas a seu rosto não deixava transparecer nenhum vestígio de expressão a não ser a que imaginassem. Os olhos pintados de preto e puxados. Seu cabelo era curto e lhe dava um ar de independência, porém o vento que lhe esvoaçava mostrava o quão influenciável ele poderia ser, e como se adaptava àquela menina. Ela estava fumando e este não parecia ser seu único vício, parecia viciada em não ter vícios. Mas sabe-se lá, ela podia estar se enganando, mas que diferença fez depois de atravessar a rua? Pra ele fez muita.

Enquanto caminhava até o banco ele imaginava mil coisas ao mesmo tempo. E no pódio de todo emaranhado de idéias confusas ele tentava organizar o que diria, afinal, esta era a principal ação. Mas no intervalo desses pensamentos ele tentava adivinhar o seu nome. Sua postura, sua boca e seu cabelo lembravam um nome forte: Valentine, Clementine, Maria Antonieta. Já seus ombros pequenos, o brilho dos seus olhos que pareciam sempre mais lubrificados que os outros e olhavam fixos pra lugar nenhum lembravam o nome de uma menininha esperando o pai ir lhe contar uma história: Sofia, Alice..

Mas o que a princípio mais lhe chamou a atenção foi o jeito como apertava os olhos ao levar o cigarro à boca.

No meio de todos estes pensamentos seus olhos a despiam. Ele não simpatizava com o cigarro, mas por algum motivo, quando a imaginava sentada nua o cigarro estava lá, hora em sua mão, hora em sua boca. Depois se lembrou que sua roupa não sumiria e então ela despiu-se, com um olhar provocante e o corpo tímido. Por menos que a tenha observado ele a compreendeu mais do que todos. Seus olhos tentavam provar que ela podia, mas o corpo ainda não acreditava, ele se perguntava ainda se devia.

Ao chegar ao banco, sem entender como a tinha perdido de vista, extremamente frustrado e tomado por uma sensação confusa, tanto quanto a anterior, porém com mais fúria, ele guardou tudo isto e resolveu aceitar, com a esperança de que um dia a veria de novo.

Quem sabe em uma boate qualquer. Esta noite quem a teve foi um outro homem nada compreensível e muito agressivo, mas como toda garota nos seus 20 anos bem treinada, ela arrancou todo seu dinheiro. E a única expressão que se prestou a fazer foi quando sussurrou “Idiota!” e depois bateu a porta do quarto. Este também nunca voltou a encontrá-la. Era assim que ela gostava das coisas, sem um final.

Por todo lugar que passava, deixava laços eternos. Afinal, o eterno tem um fim que ainda não pode ser encontrado.

Este era seu principal vício.

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